Neste dia 21 de março de 2018, comemora-se o Dia Mundial da Infância. É tempo de alerta para esta parcela tão vulnerável de nossa sociedade. De acordo com um novo estudo liderado pelo Imperial College London e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças e adolescentes (de cinco a 19 anos) obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. Se as tendências atuais continuarem, haverá mais crianças e adolescentes com obesidade do que com desnutrição moderada e grave até 2022.

Não há, nesses termos, muito a se comemorar. Temos uma grande luta pela frente. O resultado desse estudo, publicado na revista The Lancet um dia antes do Dia Mundial da Obesidade, celebrado em 11 de outubro, analisou as medidas de peso e altura de cerca de 130 milhões de pessoas com mais de cinco anos de idade (31,5 milhões de pessoas entre os cinco e os 19 anos e 97,4 milhões com mais de 20 anos) – o maior número de participantes envolvidos em um estudo epidemiológico. Mais de 1.000 colaboradores participaram do estudo, que avaliou o índice de massa corporal (IMC) e como a obesidade mudou em todo o mundo entre 1975 e 2016.

As taxas de obesidade em crianças e adolescentes em todo o mundo aumentaram de menos de 1% (equivalente a cinco milhões de meninas e seis milhões de meninos) em 1975 para quase 6% em meninas (50 milhões) e quase 8% em meninos (74 milhões) em 2016. Combinado, o número de obesos com idade entre cinco e 19 anos cresceu mais de dez vezes, de 11 milhões em 1975 para 124 milhões em 2016. Outros 213 milhões estavam com sobrepeso em 2016, mas o número caiu abaixo do limiar para a obesidade.

Nota-se que o marketing de alimentos, políticas e o preço por trás do aumento da obesidade são os principais fatores envolvidos nesse estudo.

O principal autor do estudo, professor Majid Ezzati, da Imperial’s School of Public Health, diz: “Nas últimas quatro décadas, as taxas de obesidade em crianças e adolescentes aumentaram em todo o mundo e continuam a crescer em países de baixa e média renda. Mais recentemente, se estenderam aos países de maior renda, embora os níveis de obesidade permaneçam inaceitavelmente altos”.

“Essas tendências preocupantes refletem o impacto do marketing e das políticas de alimentos em todo o mundo, com alimentos nutritivos e saudáveis caros demais para famílias e comunidades pobres. A tendência prevê uma geração de crianças e adolescentes que crescem obesos e com maior risco de doenças como o diabetes. Precisamos de maneiras para tornar o alimento saudável e nutritivo mais disponível em casa e na escola, especialmente entre famílias e comunidades pobres, além de regulamentos e impostos para proteger as crianças de alimentos pouco saudáveis”, acrescentou Ezzati.

O estudo confirma que, até 2022, haverá mais crianças e adolescentes (5-19 anos) obesos do que com desnutrição, que persiste em regiões pobres

Fiona Bull, coordenadora do programa de vigilância e prevenção de doenças crônicas não-transmissíveis da OMS, afirma: “Esses dados destacam, relembram e reforçam que o sobrepeso e a obesidade são atualmente uma crise mundial de saúde e, ao menos que comecemos a tomar medidas drásticas, deve piorar nos próximos anos”.

No entanto, existem soluções para reduzir a obesidade infantil e adolescente.

Bull acrescenta: “A OMS incentiva os países a implementar esforços para abordar os ambientes que hoje estão aumentando a chance de obesidade em nossas crianças. Os países devem procurar particularmente reduzir o consumo de alimentos baratos, ultraprocessados, densos em calorias e pobres em nutrientes. Também devem reduzir o tempo que as crianças passam em atividades de lazer sedentárias e baseadas “em telas”, promovendo uma maior participação em atividades físicas por meio de ações recreativas e esportivas”.

Junto ao estudo, a OMS lançou o plano de implementação da iniciativa “Ending Childhood Obesity” (ECHO). O objetivo da publicação é orientar os Estados Membros e outros parceiros sobre as ações necessárias para implementar as recomendações da Comissão. O plano reconhece que a prevalência da obesidade na infância, os fatores de risco que contribuem para esse problema e as situações políticas e econômicas diferentes entre os Estados Membros e fornece informações de apoio relevantes. Baseia-se em seis áreas chave:

  1. Implementação de programas integrais que promovam a ingestão de alimentos saudáveis e reduzam o consumo de alimentos não saudáveis e bebidas açucaradas entre crianças e adolescentes;
  2. Implementação de programas integrais que promovam atividades físicas e reduzam comportamentos sedentários entre crianças e adolescentes;
  3. Integração e fortalecimento das orientações para a prevenção de doenças crônicas não-transmissíveis com orientações atualizadas para o pré-concepção e cuidados pré-natais para reduzir o risco de obesidade na infância;
  4. Fornecimento de orientações e apoio para dietas saudáveis, sono e atividades físicas durante a primeira infância para assegurar que as crianças cresçam apropriadamente e desenvolvam hábitos saudáveis.
  5. Implementação de programas integrais que promovam ambientes escolares saudáveis, aulas sobre saúde e nutrição e atividades físicas entre crianças e adolescentes na idade escolar;
  6. Oferecimento de serviços multicomponentes familiares na gestão de peso e estilo de vida para crianças e jovens que são obesos.

Estima-se que existam em torno de 41 milhões de crianças menores de 5 anos obesas ou acima do peso no mundo. As informações são de especialistas Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançaram, em outubro de 2017, novas diretrizes para enfrentar o que eles consideram um epidemia global.

Considerando que o problema afeta tanto países desenvolvidos como os em estado de desenvolvimento, a OMS divulgou detalhes sobre como profissionais treinados podem identificar melhor os jovens que precisam de ajuda. As diretrizes publicadas para tratar a obesidade incluem aconselhamento e dieta, avaliação dos hábitos alimentares, além das mais comuns medições de peso e altura.

A OMS diz que a prevalência de obesidade em crianças reflete mudanças comportamentais que privilegiam dietas não saudáveis e inatividade física. Urbanização, o aumento da renda, a disponibilidade de fast food, o aumento das demandas educacionais e do tempo diante da televisão e de videogames levaram, segundo a OMS, a uma elevação no consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcar e sal e menores níveis de atividade física.

Embora tenham sido feitas grandes intervenções de saúde pública para promover uma dieta saudável e atividade física para adultos, segundo a OMS, a contribuição de intervenções para jovens e crianças para reduzir o risco de obesidade na vida adulta não foi significativamente priorizada.

Por Melissa Areal Pires, advogada e sócia da Areal Pires Advogados.


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